

Se você chegou aqui achando que encontraria uma narrativa heróica sobre a trajetória de um cara que virou executivo e foi migrando suas habilidades também para a área de Conselho, desculpe lhe informar, mas não encontrará. Antes que isso passe pela mente de alguém, não decidi criar esse artigo com a intenção de mostrar que alguém com 27 anos possui a capacidade técnica, competência e uma marca profissional forte para fazer parte de um Board. Jamais!
Tampouco é um conteúdo para discutir aspectos técnicos de formação e ação de um Conselho de Administração, Fiscal ou Consultivo, ou accountability da gestão. O conteúdo aqui se trata de compromisso, transparência e engajamento junto aos stakeholders que fizeram parte desse processo.
Também desenvolvi esse conteúdo sem foco exibicionista, caso contrário não começaria o artigo com o primeiro parágrafo acima, mas sim como forma de alertar, estimular e compartilhar conhecimento de forma direta sobre o que vivi para ajudar outros profissionais. Os meus conteúdos só possuem verdades, mas são as minhas verdades, as quais talvez não sejam as suas. Por isso, se algum tópico não servir como ensinamento, jogue fora ou compartilhe comigo sua visão. Se agregar, nos somamos nessa construção por empatia de decisões, experiências e visões.
A história que trago aqui e as decisões tomadas foram definidas e moldadas por mim, sem grande orientação no começo de carreira. Passado é passado, não posso voltar atrás, muito menos me arrepender de outros caminhos que não trilhei por inúmeras horas dedicadas à minha carreira e marca profissional. Entretanto, cada passo que dei me fizeram ser quem sou hoje e com enorme realização impactando positivamente a vida de diversos outros profissionais e mercados. Já aprendi, errei e me corrigi muito em minha jornada, e justamente por isso que agora divido um pouco sobre como deixei de ser um jovem de 21 anos que trabalhava em um McDonald ‘s nos Estados Unidos para integrar um Conselho de Administração aos 27.
A primeira etapa da construção da minha marca profissional
Não, eu não nasci em berço de ouro, mas sim em uma família muito trabalhadora. Quem me conhece e me acompanha já sabe que meu pai era militar e minha mãe andava pela cidade em uma bicicleta Monark na cor azul vendendo roupas de loja em loja. Inclusive, estive muitas vezes na garupa dela, o que me fez estar inserido em certos momentos de esforço dela.
Bicicleta da minha mãe que reformei nos últimos anos – Fonte: Acervo Pessoal Dalbosco
Era um trabalho físico e mental bem desgastante, via o cansaço no rosto dela, mas nunca ouvi ela reclamar de nada. Sempre conseguiu vencer os desafios que iam aparecendo no dia a dia, faça chuva ou faça sol. Esse foi um dos maiores aprendizados que tive com ela, pois foi tendo consciência disso que lidei com os obstáculos que surgiram quando trabalhei nos Estados Unidos e em Angola (África) em busca da construção da minha trajetória profissional.
Acontece que quando se vê alguém dando um salto na carreira tão rápido, só há três hipóteses a meu ver:
- Falcatrua (enganou alguém, driblou alguma fiscalização ou cortou caminhos andando pela ilegalidade e imoralidade);
- Bajulação (o famoso “puxa saquismo” de pessoas que não possuem capacidade técnica e fazem isso para subir); ou
- Vem de uma base de valores e esforço ímpares, possibilitando o salto junto a profissionais que apostam nesse perfil e claro, muito trabalho.
Como minha vida é um livro aberto, posso dizer que vim da terceira opção. Não só minha mãe, mas a disciplina da cultura alemã juntamente com um pai militar dentro de casa moldaram-me a um perfil que me orgulho: faca nos dentes.
“- Senhor, nós estamos cercados!
– Excelente. Nós podemos atacar em qualquer direção!”
Com meu pai dentro da Cia. de Infantaria que passei parte da minha infância – Fonte: Arquivo Pessoal Dalbosco
Afinal, questões técnicas você ensina à sua equipe, já valores humanos não há como. Então para chegar à tecnicidade apesar de não ter muito dinheiro para financiar isto, entre os meus diferenciais em início de carreira sempre estive muito pautado e procurado por esse segundo, ou seja, nos meus valores. O resto agreguei com a minha jornada.
Marca esta que me representa desde muito jovem. Eu estava na faculdade quando vi um panfleto nas mãos de um amigo e que continha o seguinte título “Ganhe dinheiro trabalhando nos Estados Unidos”. Precisava de dinheiro para pagar meu curso e aquele papel poderia ser a minha oportunidade de, talvez, conseguir um emprego em USD.
Liguei para o número, fiz a entrevista e me inscrevi no programa. Não sabia se seria o escolhido e a agência também não me deu uma estimativa “se” e “quando” teria essa informação. Certo dia recebi uma ligação. Tinha conseguido mas para uma região que ninguém queria ir pois a temperatura girava em torno de 30ºC (-20ºF) e longe das grandes metrópoles norte-americanas badaladas como New York, Los Angeles e Chicado.
Em poucos dias estaria embarcando para trabalhar no McDonald’s da cidade de Montana, nos Estados Unidos, mais conhecido como o velho oeste e terra da corrida do ouro de mais de um século atrás e que depois as estruturas ficaram abandonadas e cidades fantasmas. Mas tinha um problema: meu conhecimento em inglês era zero. Não falava e entendia poucas palavras do idioma. Lembro que tudo que me perguntavam eu respondia com “Ok”. Um perigo! Isso me impediu? Não. Entrei no avião rumo à terra do Tio Sam sem pensar nos obstáculos que enfrentaria por lá.
O que eu ganhava trabalhando de segunda a sexta, das 4h30 às 13h, no McDonald’s era pouco. Apesar do povo norte-americano ter o costume de dar gorjetas, isso não acontecia ali pois trabalhava nos bastidores. Abrir de madrugada e criar condições para estarmos atendendo às 6h da manhã, retirar neve, descarregar o caminhão, repor o estoque, trocar o óleo das máquinas, preparar comida…
Passei a procurar nos jornais uma forma adicional de conseguir dinheiro. Acabei encontrando uma vaga para trabalhar em um mercado de bairro. O salário era baixo, mas o horário do expediente era fora do período no qual estava no McDonald’s e ainda pagavam semanalmente às quintas-feiras. Eu nunca tinha visto aquilo comparado ao modelo brasileiro em que se recebe uma vez por mês, então achei o máximo. Conseguiria ao menos comprar roupas de neve pois não estava preparado para aquilo. Ou seja, era perfeito. Porém, lembra que comentei que não falava inglês? Como iria na entrevista de emprego se não conseguia me comunicar? Pedi ao meu amigo Guilherme, o qual dividia um quarto de um hotel na beira de estrada comigo e mais outros 3 colegas. Ao contrário de mim, ele tinha um conhecimento ótimo da língua inglesa então o levei junto na entrevista para traduzir o que o potencial contratante falava. Resumindo a história, consegui o emprego mesmo falando apenas “ok” no país.
Acontece que mesmo com o segundo trabalho, ainda precisava de mais renda para pagar meus estudos quando voltasse para o Brasil e para conseguir financiar o meu próximo passo profissional que estava mirando. Fui atrás novamente e consegui mais dois trabalhos. Um deles substituindo um africano de Gana que lavava o açougue do mercado após às 22 horas e após duas décadas voltaria para a África para visitar sua família.
O outro era nos finais de semana em um Hotel limpando quartos. Como era um dos únicos naquele frio a ter bicicleta, me deslocava rápido sob neve entre os empregos e com uma “magrela” que comprei por US$2.00 (dois dólares) no Salvation Army, uma das maiores entidades de caridade do mundo fundada em 1865.
Por aproximadamente seis meses segui nessa rotina. Com quatro empregos, andando na minha bicicleta rosa, acordando muito cedo e voltando para casa depois da meia noite e meia. Não estou contando isso para me fazer de vítima. Bem pelo contrário, eu escolhi esse caminho. Claro que sinto as consequências das minhas escolhas até hoje, mas elas foram responsáveis pela construção da jornada profissional e por eu estar preparado para o desafio que surgiu anos depois, a minha ida à Angola. “Mas Dalbosco, quais os ganhos passar por isso?”
- Conheci meu limite físico em jornadas de trabalhos que duravam 18h ininterruptas;
- Financiei minha ida ao final do ano para o Hawaii onde então consegui, até que enfim, um estágio na minha área de formação agregando em um salto internacional profissional três anos mais tarde;
- Passei pela maior escola de processos (McDonald’s) e que possui reflexos diários até hoje em meus serviços prestados;
- Conheci detalhes de um dos modelos mais atrativos de franchising do mundo;
- Iniciei a minha paixão por criação e fortalecimento de marcas tendo no “Méqui” uma grande escola.
Principalmente quando vejo a lista de grandes CEOs que iniciaram quando muito jovens sua jornada profissional no McDonald’s, tenho a certeza que comecei no local certo. E fico ainda mais feliz que grandes executivos como o Paulo Camargo (Presidente Arcos Dourados/McDonald’s no Brasil) continuam nessa trajetória.
Lista de 10 celebridades que já trabalharam no McDonald’s:
- Jeff Bezos
Jeff Bezos é fundador e CEO da Amazon – Fonte: The Wall Street Journal
Consegue imaginar isso? Pois é, antes de ser referência mundial, Jeff Bezos trabalhou no McDonald’s como cozinheiro em um verão quando era adolescente. O que ele diz ter aprendido lá, quebrar muitos ovos rapidamente com apenas uma mão, talvez não seja útil em sua rotina profissional hoje, mas com certeza é vantajosa na vida pessoal.
- Jay Leno
Antes de ser conhecido, Jay Leno cortava batatas e trabalhava atrás do caixa no McDonald’s quando era jovem. Segundo ele, seu chefe tinha padrões muito altos e lhe ensinou algo muito importante sobre o sucesso de sua marca profissional: você nunca foi longe demais para garantir que está produzindo um ótimo produto.
- Shania Twain
Shania trabalhou no McDonald’s em Ontário antes de ser conhecida no mundo da música country.
- Lin-Manuel Miranda
Depois de ter falado no twitter que seu primeiro trabalho foi trabalhar na caixa registradora e fazer entregas para o McDonald’s, Lin-Manuel foi respondida pela conta oficial no Twitter do McDonald’s dizendo: “A mudança é boa… literal e figurativamente. Bravo, Lin!
- Rachel McAdams
McAdams recebia os clientes do McDonald’s antes da fama e fazer os papéis em The Notebook e Mean Girls.
- Pink
Foi na janela do drive-through de um McDonald’s que a cantora iniciou sua marca profissional. O trabalho foi importante na vida dela pois aprendeu a se virar sozinha e não depender da família.
- Keenan Ivory Wayans
Keenan Ivory Wayans foi gerente do McDonald’s antes de ser uma referência no universo cinematográfico e da comédia.
- Pharrell Williams
Sorte do mundo da música que Pharrel largou os hambúrgueres do McDonald’s (mesmo que obrigado) para seguir na carreira de cantor. Ele foi demitido três vezes por preguiça e admitiu que a única coisa no qual era bom era comer nuggets de frango. Anos depois, quando sua marca profissional já estava muito bem encaminhada, ele escreveu a música do Justin Timberlake, “I’m Lovin ‘It”, que se tornou o slogan do McDonald’s.
- Sharon Stone
A referência da moda trabalhava durante meio período como garota de balcão em um restaurante do McDonald ‘s antes de estrelar como modelo.
- James Franco
O ator passou a trabalhar no McDonald’s no turno da madrugada depois que largou a faculdade em 1996. Aproveitava para praticar suas habilidades de atuação ao usar sotaques falsos com os clientes na faixa de passagem.
Quando minha marca profissional começou a andar com leões
Além da experiência acima relatada em Montana (EUA), lá no “Méqui”, passei por diversas escolas de formação e aperfeiçoamento profissional, sendo que posso citar:
- o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE);
- o IBAMA (por três anos)
- o National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), no qual estagiei no Hawaii;
- Entre diversos outros projetos.
Mas para encurtar, pularei minha trajetória profissional um pouco.
Sempre quis que minhas ações e experiências pudessem ajudar um grande número de pessoas e seus negócios. Mas assim como gosto de fazer isso pelos outros, também precisei de ajuda no início da minha carreira. Sim, eu também precisei de um mentor. Não acredito em sorte mas sim em encontros e oportunidades por empatia de valores e estar aberto ao aprendizado. Pude no início de minha graduação a contar com um profissional que me ajudou a desenvolver minha capacidade profissional e conseguir boas oportunidades. O nome dele é Marcus Polette, PhD e especialista em Planejamento Urbano, considerado o “papa do planejamento urbano em zonas costeiras no Brasil”.
Última vez que estive visitando o Marcus Polette, PhD em 2017, e tendo a surpresa dele ter um porta-retratos com minha imagem em seu escritório – Fonte: Arquivo Pessoal Dalbosco
Pela minha experiência de trabalho com o Polette o qual fiquei por 6 anos trabalhando, fui convidado a trabalhar em Angola (África), para um grupo europeu que atuava em 25 áreas distintas. O país passou por uma guerra civil de aproximadamente 30 anos, estava destruído e precisava de ajuda na reconstrução nacional. Senti que poderia ajudar e até que enfim minha habilidade técnica ter maior relevância.
Passei três anos por lá desenvolvendo planos de urbanização, planos diretores municipais para melhorar a qualidade de vida da população e abrindo novos negócios à multinacional. Sem dúvidas, uma lição de vida, principalmente pelo fato de serem três anos sem luz (apenas com gerador) e sem água potável (apenas com caminhão-pipa). Quando cheguei por lá, a expectativa média de vida era de 42 anos e o país sendo o terceiro no mundo com o maior número de minas, impossibilitando andarmos em todos os locais.
Trabalhos ao sul de Angola em uma região minada denominada de “Terra do fim do mundo” – Fonte: Arquivo Pessoal Dalbosco
Mas o futuro ainda me reservou mais uma outra boa surpresa para minha fortalecer marca profissional. Em 2011, fui convidado a retornar ao Brasil para entrada dos negócios do grupo europeu na América do Sul e, nesse momento, aos 27 anos, passei também a integrar o Conselho de Administração dos negócios que cresciam em movimento exponencial nos primeiros anos de operação no Brasil.
A partir dessa, surgiram várias outras oportunidades como trabalhos de construção de marcas em outros países, como no caso abaixo na Espanha.
Trabalho de marca na plantação de nozes da Frutos de Vettonia na Espanha – Fonte: Arquivo Pessoal Dalbosco
O que me fez ser convidado a integrar o Conselho de Administração?
Não fui convidado no passado aos meus 27 anos por um só motivo e muito menos por ter uma longa experiência e marca profissional forte. Era ainda jovem, mas tinha algumas características que foram favoráveis a minha convocação:
1) Confiança na minha marca profissional
Posso dizer que parte dela foi construída em função dos trabalhos em Angola (África). Foram três anos bem complicados para morar e viver no país pós-guerra civil. Mal havia eletricidade (1000 dias com gerador) e água potável, além dos riscos como malária e intrínsecos de um país armado que havia saído da guerra há pouco tempo.
Já dá para ter uma boa ideia da resiliência de um profissional e o quanto podemos contar com ele sob adversidades quando o mesmo resiste ao campo e a ambientes assim, sendo técnico ou gerindo times e situações críticas. Foi lá, no meio desse cenário, que recebi o convite do Presidente do Conselho de Administração (PCA) e resolvi encarar o desafio de integrar a entrada do grupo no mercado América do Sul, especificamente o Brasil.
2) Geração de valor antes de demonstrar qualquer interesse
Agregue antes, receba convites depois. Quando eu era pequeno, só os bem quistos eram convidados para as festinhas de aniversário dos amigos (as). Provavelmente com você também era assim. Na fase adulta, o cenário é o mesmo, se sua marca profissional não é bem vista no mercado como agregadora, os convites tendem a não chegar.
3) Único da minha área de formação a integrar o Conselho
Não era engenheiro em uma empresa de engenheiros. Um profissional com formação na área de exatas, analítico, mas com uma carga de marketing não era no passado comum compor Conselhos (e ainda não é). Mas vejo mudanças e tendência de profissionais na área de gestão de marcas (principalmente com experiência multimarcas e que acompanharam processos de sucessão familiar), assim como profissionais da vertente de inovação e tecnologia começando a ser requisitados para a posição.
4) Visão criativa e analítica
Isso é algo que está em alta procura no mercado. O que se encontra tipicamente são os extremos: profissionais muito criativos mas que falham muito nas entregas ou profissionais com foco analítico mas possuem dificuldade de visão holística e relacional com outros stakeholders, sejam dentro da empresa ou fornecedores.
5) Constância no aprendizado
Por estar em um grupo em que a formação acadêmica constante é valorizada, principalmente pelo fundador, veio a estar em sintonia com o meu perfil. Ou seja, o aprimoramento acadêmico, técnico, de gestão e interpessoal sempre foram os quatro pilares base para minhas formações. Da graduação a formações complementares, do MBA pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) a cursos na área das humanas, do Mestrado Profissional ao Doutorado Acadêmico (o qual estou percorrendo neste momento), só há uma verdade: sou incansável pelo conhecimento e isso é um dos valores compartilhados pela organização. Ou seja, há um alinhamento com a cultura corporativa e expectativas de capacitação.
6) Capacidade técnica x Competência
Tinha ciência de que não possuía vasta experiência técnica mas que possuía elevado potencial para assumir competências futuras. O resto é história que é a dona da verdade e o que chamo de prova social, ou seja, as comprovações no mercado que você impactou positivamente para a subida de régua competitiva.
7) Momento certo de mercado e da empresa
Claro que o fator externo, de mercado e cenário mundial também influenciam. Aquele era o momento ideal e demonstrava estar aberto para aceitar o desafio do aprendizado. Então regressei ao Brasil para assumir a função.
8) Demonstração que queria construir uma história com minha marca profissional
Na época, lembro-me que recebi um grande convite para assumir a gestão de uma área no Brasil para a FAO (ONU) em Brasília, mesmo muito jovem. Neguei o convite e fiz questão de estar alinhado com o Presidente do Conselho de Administração qual era meu objetivo por me manter no grupo. Eu realmente queria construir um ciclo longo ali e manter o foco no que havia planejado à minha marca profissional.
9) Lealdade
Uma das características mais raras de se encontrar hoje no mercado. Sabe o que costumo dizer a empresários quando acham que estão pagando caro por um colaborador, gestor ou conselheiro? Simplesmente questiono: “Quanto você pagaria para ter lealdade?”. Certamente mais do que você está pagando mensalmente por ele. Portanto valorize-o e não o deixe ir embora.
10) Proatividade
Você é contratado para resolver problemas do seu mercado. Ou seja, seu segmento lhe paga em função do quanto você impacta positivamente ele. Não há marca profissional que sobreviva e se fortaleça no mundo corporativo sem iniciativa de correr riscos e fazer o que os outros possuem receio de percorrer. Muitos querem ser Conselheiros, mas poucos querem pagar o preço. Essa, para mim, é uma das verdades absolutas.
Quais os obstáculos que eu tive que enfrentar ao construir minha marca profissional?
Lendo até aqui, talvez passe por sua cabeça que eu era o profissional perfeito e com todas as características necessárias para assumir a cadeira no Conselho de Administração do Grupo. Não era.
Para começar que era o mais novo do Conselho. Para ter ideia, a média de idade dos outros profissionais que faziam parte era de 52 anos.
50% dos conselheiros possuem idade entre 50 e 69 anos – Fonte: IBGC
Eu tinha poucos anos de experiência no mercado. Não tinha conhecimento de todos os interesses e interessados, sejam de Conselheiros, gestores ou acionistas. E para completar, era o único brasileiro em um Grupo que tinha uma cultura diferente.
Jovem e sem experiência. Você acha mesmo que não houve receio por parte dos outros membros no início mesmo eu tendo todas as características e cenários potenciais que citei acima?
O fato de ter nascido no Brasil também não ajudava muito, porque cá entre nós, nós brasileiros geralmente temos uma dificuldade de passar segurança logo no arranque da marca profissional em qualquer mercado no mundo. E infelizmente isso acaba acontecendo por tantas “vaciladas” que outros profissionais cometeram no passado e outros que continuam a cometer. Sem falar dos muitos turistas a não construírem uma imagem positiva por onde passam.
Tive que conquistar a confiança deles aos poucos, mostrando o meu trabalho e que o convite não havia sido em vão.
Quais conselhos posso dar a potenciais Conselheiros?
Como já mencionei, entrei em um Conselho de Administração com uma idade bem abaixo da média brasileira. Construí minha marca profissional com o auxílio do que via, vivia e ouvia. Por isso, se está pensando em ser conselheiro, e se fizer sentido para você, aqui deixo alguns Conselhos:
1) Primeiro escute
Saiba que quando você possui idade mais nova que a média de um Conselho e integra o Board, as pessoas ao redor geralmente são mais bem-sucedidas e têm uma marca profissional mais forte do que você. Ter a humildade em reconhecer isso é fundamental no processo de aumento da consciência do seu nível de aprendizado, quais degraus precisa subir e com quem pode aprender. Por outro lado, não quer dizer que elas são mais realizadas que você. Esse índice de sucesso cabe assunto para um outro artigo, o que acha?
2) Assuma riscos
Se quer fazer parte de um Conselho de Administração, isso é inevitável. Aqui falo não apenas de riscos jurídicos mas também em termos de imagem da sua marca profissional. O mercado de Conselheiros no Brasil ainda vive, em grande parte, por meio de indicações. Vacilou? “Tchau e benção” como se fala por aqui.
3) Saiba exatamente qual sua função como Conselheiro
Isso serve para si mesmo e para os demais integrantes. É comum eu escutar hoje em dia reclamações de Conselheiros a apontar mistura de agendas do Conselho com temas executivos/operacionais nas sessões. Portanto, saiba o que é sensato dentro do Board que você está integrando. Geralmente, as atitudes do Presidente do Conselho de Administração (PCA) são as primeiras referências que você pode perceber/notar sobre como é a gestão. Se tiver ego nas alturas e mistura de agendas, já há alguns indicativos e ensinamentos a tirar desse cenário. Já quando se encontram PCAs arrogantes, os quais geralmente possuem essa máscara para cobrir a insegurança e autoconsideração de que não precisam mais aprender. Portanto, líderes fracos formam conselhos inseguros e com a mesma fraqueza a meu ver.
4) Compreenda que ter formação técnica em Conselho não é obrigatória, mas auxilia no entendimento do processo
Esteja ciente de que formação técnica como conselheiro não é requisito, porém ajuda sim a entrar e a exercer suas funções dentro de um Conselho. IBGC e Fundação Dom Cabral (FDC) são referências no país em formação de Conselheiros. Além disso, existem alguns nomes no mercado que também são especialistas e podem auxiliar nesse processo.
Wanderlei Passarela e o Tiago Martins têm se tornado referência na formação de Conselheiros Consultivos.
Clique aqui para conhecer e ter mais informações sobre a formação de Conselheiros.
Tratando-se de mentoria, o Marcos Leandro Pereira é mentor de conselheiros e por meio dos hiperlinks você pode se conectar a ele e indicar que recebeu o contato por cá, pois não tenho dúvida que será bem recebido.
5) Não é porque existem vários Conselhos, que são geridos da mesma forma
Ter a consciência de que estar em um Conselho de uma empresa familiar é bem diferente de outro perfil de organização. No livro do Bruno Salmeron, referência em governança familiar no Brasil, ele fala sobre essa diferença e um pouco da sua jornada nesses dois universos.
Livro escrito pelo Bruno Salmeron “Governança em família – Da fundação à sucessão” – Fonte: Acervo Pessoal Dalbosco
Clique aqui para comprar o livro do Bruno Salmeron na Amazon.
Não é apenas o formato de gestão que mudam nos diversos tipos de Conselhos. A remuneração também.
Segundo uma matéria da Forbes e pesquisa do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), entre os membros consultivos, 26,2% recebem entre R$5 mil e R$10 mil. Já os membros com cargo administrativo, a pesquisa registrou que o valor varia entre R$10 mil e R$15 mil em 25,5% das situações.
Remuneração de Conselheiros Administrativos em empresas de capital fechado – Fonte: Valor Econômico
6) Virar a chave da sua marca profissional de executivo para conselheiro
Principalmente se a empresa é um braço de uma multinacional que você já tem relação laboral ou de empresas de capital fechado, essa virada é mais difícil geralmente pois o choque de agendas, competências e interesses ainda está na microgestão.
7) Você não terá mais tempo
Engana-se quem quer entrar em Conselho para ter mais tempo. Muitos casos as reuniões são mensais e por vezes até trimestrais, mas estará fora de uma atuação sustentável como conselheiro, ou seja, com valorização dentro da organização e com indicações do mercado, se acha que não há trabalho a se fazer entre esses períodos.
8) Networking
Fazer-me entrar tão cedo chamou a atenção de vários conselheiros que hoje muitos são verdadeiros amigos. É fundamental que você esteja aberto a partilhar conhecimento assim como a aprender com profissionais seniores. Cito aqui abaixo dois deles:
- Marcos Leandro Pereira (ex-líder nacional da área legal da Deloitte, advogado societarista e especializado na implantação de conselhos consultivos e de administração, conselheiro independente e indicado em diversos Conselhos em empresas familiares de médio e grande portes).
- Bruno Salmeron (C-Level da Schulz, é referência nacional em sucessão familiar e governança corporativa).
A partir do momento que você começa o networking de verdade, e eu já escrevi um artigo sobre como melhorei o meu ao longo da minha construção de marca profissional, passa a trilhar um caminho com maior probabilidade de sucesso.
Clique aqui para ler o artigo Como melhorei meu networking ao parar de cortar o cabelo no “Cabeça”
9) Construção de relacionamento fora da empresa
Não só dentro da organização, mas ser um profissional bem relacionado e aceito em diversas frentes, pode ser bem visto a depender do Conselho, principalmente se o seu grau de influência sobre outras pessoas e mercados for de interesse do Board. “Dalbosco, então é quase como uma moeda de troca?”. Posso dizer que não há troca, mas sim uma somatória e você pode ter esse poder de somar a ambos os lados.
10) Seja claro com relação a sua vida particular e marca profissional
Apesar de que muitos conselheiros se encontram de meses em meses, vejo que o fato de companheiros de Board conhecerem sua vida pessoal pode agregar. Gerar confiança e segurança são a base de uma construção de relacionamento duradouro, sustentável e progressista.
11) Visão mais ampla
Conhecer o papel de cada departamento e o objetivo das pessoas chave dentro dos processos é uma das primeiras coisas que considero a se fazer. Isso mesmo: acredito ser fundamental não conhecer apenas os líderes de área, mas também as pessoas chave dos processos dentro dessas áreas. Se o líder é fraco, é ali que você pode ter indícios de cenários a se moldarem à corporação. Microgestão por um conselheiro e dentro do executivo? Não, a depender do tamanho da empresa. É bom avaliar. O importante é entender o negócio com uma visão mais holística, principalmente se você for conselheiro presente em multi-negócios e aparece apenas para as reuniões.
12) Saiba a quem consultar
Durante uma trajetória como conselheiro, saber a quem recorrer é fundamental na sua gestão de competência e carreira. No meu caso, só foi possível pois tive a espécie de um “padrinho” que conhecia muito bem minha potencial capacidade de agregar e meus valores humanos. Procure o seu para que ele lhe ajude nessa sua jornada da marca profissional e puxada para a Alta-Direção ou Conselhos.
13) Respeite tradições do fundador e a cultura do Grupo
Esteja ciente que há diversos aspectos que você não irá conseguir mudar mas sim apenas aconselhar. Por vezes, isso pode gerar um valor enorme por meio do aumento da percepção de quem está do outro lado como ouvinte ou visualizador das suas ações.
14) O seu “tempo” pode ser diferente dos demais
É normal no começo da carreira e construção de marca profissional como conselheiro ser “anormal”. Ou seja, sua velocidade e senso de urgência por vezes podem estar em falta de sintonia com os demais integrantes do Conselho. Isso é um risco para você. Não confunda com ser lento, é diferente. Estar sereno durante este processo de forma que a racionalidade faça parte da sua cultura de decisões em vez do emocional é fundamental para criar uma imagem de respeito dentro do Board.
15) Saber que, ao ir para uma reunião, diversos aspectos precisam estar antecipadamente alinhados
Quando falo isso, muitos julgam. Mas é assim que a banda toca na vida real. Esse é o jogo do poder corporativo: o mesmo que lhe coloca, lhe convém ou lhe tira da mesa de “cartas”. Aceita dói menos 😉
16) Entenda os interesses de cada conselheiro
Compreender isso é essencial. Quando possível, buscar saber também os interesses dos acionistas ou grupo deles, pois há muitos Conselhos em que há intervenção forte de bastidor, assim como interesses pessoais próprios e não corporativos.
17) Tenha claro que o mundo não precisa ser justo
Afinal, quem disse que teria que ser? Pois é, infelizmente, em um Conselho muitas vezes também não é. Nem sempre o melhor para a empresa é o melhor para alguns conselheiros. Isso faz muitos “profissionais” inverterem seus papéis dentro do Board de forma a beneficiar interesses particulares. Ter a ciência e consciência disto, lhe dará benefícios para gerir potenciais interesses.
18) Esteja alinhado com seus valores e propósito
Aqui vejo a grande falha de muitos executivos que foram para a carreira de conselheiro. Fica claro quem é quem em uma mesa e seus objetivos depois de um tempo de convivência e, por mais que doa dizer isso, irão encontrar conselheiros que o próprio ego “não cabe dentro deles”. Gosto muito da frase do Marcos Leandro Pereira abaixo:
Muitos estão ali por interesses único e exclusivo de ganho pessoal e financeiro. Aí fica claro a falta de sintonia com a cultura corporativa, algo muito típico de se encontrar em Conselhos hoje em dia.
19) O todo é mais importante que você e sua marca profissional
Não se trata apenas do famoso “espírito de equipe” mas Conselho com brilho único, seja o seu ou do Presidente do Conselho de Administração (PCA), não forma uma constelação. Conselhos precisam estar cada vez mais afastados das estrelas que querem brilhar sozinhas. Considero que um Conselho está “contaminado” quando sua atuação é comprometida pelos interesses de uma única “estrela” ou grupo específico (famosa “patota”). Concorda?
Eixos fundamentais para desenvolver sua marca profissional em um Conselho
Algo que aproveitei na minha jornada e construção de marca profissional foi me desenvolver e crescer dentro daquele ambiente. Diversos temas são debatidos e se souber aproveitar, terá em mãos um grande pote de ouro de conhecimento.
Principais temas debatidos em reuniões – Fonte: IBGC
Para que absorva muito bem cada ensinamento ali compartilhado e possa se desenvolver de maneira positiva, listo eixos fundamentais:
– Aspectos legais de até onde se pode ir;
– Aspectos morais de até onde se pode ir;
– Aspectos culturais de até onde se pode ir;
– Esteja disposto a ouvir, tecnicamente capaz de analisar e sensato quando falar (um dos grandes problemas é quando há conselheiros que falam por falar, ou para aparecer achando que aquilo é colaborar, ou sem base do que estão falando comprometendo tempo e paciência dos demais).
Quais cuidados você deve ter com sua marca profissional em Conselhos
Cuidado com Conselheiros que remam apenas em benefício próprio
Posso dizer que o Covid19 salvou muito CEO e Conselheiro e que vinham tendo baixo rendimento em seus postos. Isso porque se não há governança com processos de execução e avaliação bem estabelecidos de fato, fica até difícil de avaliar um conselheiro. Muitos conseguiram se safar da responsabilidade de estarem mal no mercado com a desculpa do “foi por causa do Covid19”.
Dentro deste âmbito, destaco ainda a competitividade entre Conselheiros. A competição empresarial como um estímulo para vestirem a camisa e batalhar torna-se muitas vezes uma briga de egos internamente. Acontece que alguns não conseguem segurar isso em si e acabam liberando em forma de arrogância desenfreada.
Fique de olho na “Confraria de Conselhos”
Fato é que, hoje em dia, a indicação é o maior canal para se entrar em um Conselho no Brasil, apesar de que há uma tendência de uma maior profissionalização nos processos de escolha referente a isto. Entretanto, vejo muitos conselheiros, sucessores familiares e CEOs profissionais se metendo na seguinte enrascada: indicando um amigo ou colega pelo simples fato de proximidade ou porque o outro está precisando, deixando a capacidade técnica e competência em segundo plano.
Conforme aprendi na minha jornada de trabalho na África: Nunca contrate alguém que você não possa demitir.
PCAs querendo formar sucessores à sua imagem e semelhança
Se não se trata de Gênesis 1:26, então pode ser diferente. Para que um sucessor de presidência de Conselho seja moldado exatamente igual ao pioneiro, vários fatores precisam estar alinhados considerando cenários econômicos externos futuros, família fundadora, acionistas, nova conjuntura interna que a empresa entrará, entre outros fatores. A humildade em saber e reconhecer que o que era eficaz há 10 anos, pode não ser o ideal para os próximos tempos, é algo que falta dentro de muitos Conselhos.
Há regras
O Conselho não é a sua casa, não é como você quer que seja geralmente, muito menos você é o único interessado no negócio. Portanto, o respeito às regras, aos processos, aos colegas de Board e às tradições do negócio em questão (principalmente em caso de empresas familiares), é fundamental para a boa convivência (externa e interna, pois sua mente pode virar um turbilhão se não entender isso).
Você pode ser autêntico mas lembre: sua autenticidade e marca profissional só farão sentido em um Conselho se for em prol da linha mestra traçada pelo bem comum do grupo.
Bom, são só algumas percepções. Algumas talvez mudem em frente, outras estou aberto a aprender diariamente e a agregar por quem sou chamado. Espírito jovem eternamente mas com sensatez e ponderações. Esses são os termos adequados que considero para um bom desempenho nessa trajetória. E saiba: sou e seja grato a cada um que fez ou faz parte dessa sua jornada de marca profissional, sejam os que auxiliaram, criticaram, incentivaram ou duvidaram. Sejamos apenas nossas melhores versões e por vezes essa é de uma grande ajuda a diversos Conselhos pelo mundo. Encontre o seu.
Volto a lembrar: o meu relato acima são as (minhas) verdades relacionadas à minha construção de marca profissional. Talvez diferentes das suas vivências, observações ou percepções. Quem sabe daqui uns anos nos encontraremos em algum Conselho e aí algumas delas possam ter mudado, mas creio muito que os pontos que destaquei acima e que por vezes me inquietam estão muito alinhados com os meus valores. Por isso defendo as visões acima apresentadas neste artigo. E você? Gostaria de ler algumas contribuições e relatos pessoais que já presenciaram dentro de conselhos.