

Você sabe o que Michael Jordan, Pelé e a Adriana Samuel têm em comum? Além do fato de terem tido uma carreira brilhante no universo do esporte, eles conseguiram manter suas marcas pessoais em evidência mesmo após a aposentadoria.
Sempre aliei minha vida pessoal e profissional ao esporte. Desde pequeno meu pai me incentivou a isso. Ao longo dos anos pude perceber o quão importante é construir uma marca pessoal para ter sucesso e permanecer na memória das pessoas, principalmente na época em que ousei começar uma carreira no futebol. Acabei não seguindo por esse caminho, pois vi que não era aquilo que queria. Para alguns pode ser que tenha sido perda de tempo, mas para mim foi apenas o começo do meu aprendizado sobre gestão de marca.
Se você parar para pensar no histórico de alguns atletas e na relação entre o esporte e a gestão de marca, irá perceber que muitos não conseguem manter uma marca pessoal forte após o sucesso. Ou porque não possuem conhecimento, ou porque não têm um profissional que lhes ajude com essa questão. Quando falei sobre essa questão com a Adriana Samuel, medalhista olímpica de vôlei de praia, chegamos a conclusão de que era preciso falar mais sobre esse tema. Unimos a experiência dela em quadra e na areia com a minha em gestão de marca e produzimos esse artigo para auxiliar os atletas a não serem esquecidos com o tempo.
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Os obstáculos para criar uma marca pessoal desde pequena
Aqueles que estão na casa dos 35 anos, certamente assistiram às emblemáticas partidas da Adriana. Lembro-me de acompanhar os jogos dela na casa dos meus pais quando eu era pequeno.


A rotina de treinos dela começou aos 13, quando foi convidada a fazer parte de um time mirim de vôlei na cidade do Rio de Janeiro. Na adolescência não teve dúvidas que esse seria o seu caminho, pois amava o que fazia.
Tanto é que a garra e determinação que tinha nos treinos e competições a fizeram chegar a Seleção Brasileira de Voleibol com apenas 17 anos. Apesar de já fazer sucesso na época, não foi nas quadras que ela teve seu maior destaque, mas sim na areia.
Por mais que a troca não tenha sido planejada, ela precisou repensar nas estratégias que indiretamente estava construindo em relação a sua marca no esporte. Os times de vôlei de quadra estavam passando por um momento complicado, não conseguiam patrocinadores, o que acabava dificultando bastante o desenvolvimento das atletas e dos times. Quando a Adriana me contou isso, eu não vi muita diferença na realidade de hoje dentro do esporte. É difícil conseguir patrocínio para um atleta, imagina para um time todo?
No meio desse cenário ainda incerto na carreira, Adriana precisou se reinventar, tirou um tempo para “brincar” na areia do Posto 6 do Rio de Janeiro com a futura parceira Mônica Rodrigues. Como toda mudança na vida, é necessário se adaptar e superar alguns obstáculos. A Adriana precisou lidar com uma questão que aparentemente pode parecer simples, mas que pode acabar com uma partida inteira: areia e sol nos olhos. Ela passou por uma longa adaptação até ter a areia como sua segunda, ou melhor, primeira casa.
Sei bem como é essa fase de mudança de estratégias e pensamentos. Recentemente tive que reformular meu foco no jiu-jitsu. Fui campeão sul brasileiro no início de 2020, mas o primeiro lugar no pódio veio com um brinde que nenhum atleta gostaria de ter.
Conquistei o primeiro lugar depois de muito treino, dedicação e a derrota no Sul-Americano de 2019.
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Clique aqui para ler meu artigo destaque no LinkedIn com campeão faixa preta de Jiu Jitsu no qual falei um pouco sobre a minha primeira experiência em um campeonato.
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Acabei me lesionando durante a luta final e ficando fora dos próximos campeonatos. Minha adaptação não foi apenas física, mas mental também. Você não sabe o quão difícil para mim é ficar fora do tatame.
Adriana superou o que lhe incomodava e a dupla resolveu se inscrever e participar da Copa Itaú de Vôlei. E adivinha? Ganharam. Essa foi apenas a primeira, muitas outras surgiram depois. Mas um fato que gostaria de chamar a atenção aqui é que em todos os campeonatos, elas foram sem patrocínio algum. A marca de Adriana e Mônica foi construída por meio de permutas com lojas de uniforme e das premiações monetárias que recebiam em alguns torneios.
Não sei você, mas eu agradeço a Adriana por ter feito essa troca. Sem ela o Brasil não teria conquistado sua primeira medalha feminina na estreia do vôlei de areia nos Jogos Olímpicos de 1996 nos Estados Unidos.
Rivalidade Brasil e Estados Unidos
No futebol não há rivalidade como Brasil e Argentina. Já na década de 1990 o mundo parava para assistir ao vôlei de quadra feminino quando nossa seleção enfrentava a de Cuba. No vôlei de praia não seria diferente. Só que nesse caso, as jogadoras a serem vencidas defendiam os Estados Unidos.
O auge dessa rivalidade Brasil e Estados Unidos ocorreu nas Olimpíadas de Atlanta, no ano de 1996. Como se passaram mais de 20 anos, vou refrescar sua memória.
Na década de 1990 o vôlei de praia ainda dava seus primeiros passos no Brasil e Adriana Samuel foi pioneira na modalidade por aqui. Em contrapartida, nos Estados Unidos, naquela época, já havia torneio todo fim de semana.
Mas, o ano de 1996 seria um momento único na história do esporte para as brasileiras. Mesmo jogando em casa, os Estados Unidos ficaram no meio do caminho. Pasmem, o domínio da partida foi 100% brasileira. A final daqueles jogos olímpicos ocorreu entre a dupla Adriana Samuel e Monica Rodrigues versus Sandra Pires e Jacqueline Silva. Adriana retornou para casa com a medalha de prata no peito.
A vitória foi tão grandiosa que as quatro guerreiras foram recebidas, no Rio de Janeiro, em carro aberto para um desfile pelas ruas da cidade.
Monica Rodrigues, Adriana Samuel, Jacqueline Silva e Sandra Pires – Fonte: Blog do Chaguinhas
Como manter a força da marca pessoal mesmo após as vitórias
Se você leu o artigo que escrevi com o campeão mundial de Jiu-Jitsu, Mahamed Aly, o qual foi destaque pelo LinkedIn, deve lembrar que refleti sobre a seguinte questão:
Por que muitos atletas perdem a visibilidade depois que o período de competição acaba?
Primeiro porque a mídia, e consequentemente quem tem acesso a ela, deixa de falar sobre aquele atleta, mesmo que tenha vencido. Há uma espécie de “esquecimento” por parte dos meios de comunicação quando os períodos de jogos de determinada modalidade acabam. Ou você por acaso vê diariamente matérias sobre isso nos principais noticiários do Brasil?
Se a mídia não ajuda nessa divulgação e visibilidade, de alguma forma eles precisam manter seus nomes em evidência. Caso contrário não chamarão a atenção de potenciais patrocinadores, concorda?
“Sempre tive uma preocupação com a minha marca, minha equipe. Então, essa capacidade de enxergar o esporte de uma maneira tão profissional, naquela época, ajudava a construir uma marca pessoal. Além da divulgação espontânea por estar entre as primeiras do ranking e ocupar uma posição de destaque na sua modalidade.” – Adriana Samuel – Medalhista Olímpica
Adriana tinha uma assessoria de imprensa, assim como tinha uma visão profissional do esporte. Ela e sua dupla foram pioneiras ao investirem em treinadores, fisioterapeutas e em toda uma equipe de trabalho. Na época não havia rede social. O espaço que tinham para chamar a atenção das marcas era na grade televisiva. Acontece que não era tão fácil conseguir uma brecha nas telinhas.
Se já há essa dificuldade enquanto são atletas e estão dedicando seu tempo em treinos e competições, imagine depois que encerram suas carreiras. Adriana sabia que essa não seria uma situação fácil de lidar, por isso deu início a um planejamento estratégico para continuar tendo sua marca atrelada ao esporte que tanto ama.
Como a Adriana conseguiu manter uma marca forte mesmo sendo uma ex-atleta
Quando estava participando dos Jogos Olímpicos de Sydney, ela já sabia que aqueles eram os últimos dela como atleta profissional. Por mais que a mente quisesse continuar, o físico já dava sinais de que precisava de um tempo maior de recuperação entre um jogo e outro. Quem é atleta sabe, é preciso se dedicar mais que 100% se o objetivo for a conquista de pódio ou competições. O professor Alexandre Marciano vive batendo nessa tecla nos treinos de jiu-jitsu, e tem toda razão.
O pensamento que Adriana teve, e que outros atletas deveriam ter, foi sempre lembrar que por mais que tivesse vários patrocínios, uma hora sua carreira chegaria ao fim.
Ela parou de jogar no final de 2001, mas o fato de não fazer mais parte das competições, não significou o desligamento da sua marca no esporte.
Continuou sua missão exemplar, repassando por meio de projetos sociais e novos negócios os valores que aprendeu. Adriana começou uma nova etapa de sua vida. Sua experiência, foco e determinação do mundo dos esportes foram concentrados na carreira de empresária. Passou a gerenciar a carreira de novos atletas, cuidando desde a gestão de imagem, captação de patrocínio e desenvolvimento de projetos. Ou seja, ajudando-os a lidar com questões que são essenciais para ter uma marca forte no esporte.
Em 2004, fundou a Escolinha de Vôlei Adriana Samuel. Projeto que visa a inclusão social e o desenvolvimento humano às crianças e adolescentes de comunidades por meio da atividade esportiva e de seus valores.
“A realização desse projeto é a medalha de ouro olímpica que eu não conquistei jogando. Mais difícil do que conseguir realizar é manter uma vida longa como este projeto tem.” – Adriana Samuel – Medalhista Olímpica
A Escola de Vôlei Adriana Samuel, que já teve três núcleos: atualmente tem um polo em Deodoro, zona norte do Rio de Janeiro – Fonte: Acervo pessoal Adriana Samuel
A Escolha integra o mais novo projeto social da ex-atleta: o Sem Barreiras. Criado em 2018 reunindo três modalidades olímpicas em um único local: vôlei, judô e atletismo. Bacana, não?
Promove o desenvolvimento dos valores esportivos, como espírito de equipe, determinação, superação, além de estimular a socialização entre os participantes e a troca de experiência entre eles, melhorar a autoestima e autoconfiança dos praticante. Atualmente atende cerca de 250 crianças da região central da cidade do Rio de Janeiro e promove ações como:.
- Torneios esportivos;
- Festivais;
- Passeios ao teatro;
- Exposições;
- Visita e intercâmbio com outros projetos sociais.
Eu sempre admirei Adriana como atleta, mas depois que descobri toda a história dela e compromisso em oferecer oportunidade de crescimento a esses jovens, tanto no esporte como na vida, minha admiração aumentou ainda mais.
Pessoas como ela, que enxergam o próximo, têm meu respeito. Ao estender a mão, estamos beneficiando aqueles que ajudamos e a nós mesmos. Já parou para pensar que ao fazer isso, inconscientemente, estamos trabalhando a nossa própria marca pessoal?
Marcas pessoais e empresariais de diferentes localidades e tamanhos têm focado muito na questão de propósitos e valores nos últimos tempos. Outro profissional que, assim como a Adriana, tem dedicado seu tempo para transformar a vida dos jovens atletas é o meu grande amigo e professor de Jiu-Jitsu Alexandre Marciano. O projeto dele atende por volta de 300 crianças, proporcionando a esperança de que o mundo pode ser melhor, atendendo necessidades básicas e levando os ensinamentos dos esportes.
Imagino que você deve ter percebido o quanto esse assunto me cativa. Além de ter morado e trabalhado três anos em Angola em projetos de planejamento urbano para reconstrução nacional, convivendo com crianças tão sonhadoras quanto as do projeto da Adriana e do Marciano, tive a oportunidade de me especializar também na Gestão de Projetos Sociais.
Aprendi e compartilhei muito conhecimento com essas crianças no período em que estive trabalhando em Angola (África). Essa é uma das poucas fotos em que apareço, pois como podem ver, a câmera em minha mão servia para capturar e registrar o momento e realidade deles.
Carrego com carinho um dos meus certificados conquistados no ano de 2017: APMG International (Internationally Certified in PMDPro). Trata-se da metodologia de Gestão de Projetos Sociais mais usada no mundo.
Por que a marca pessoal de um atleta é decisiva antes, durante e depois do sucesso?
A imagem pessoal do atleta deve ser bem planejada para que a essência dele esteja alinhada com as expectativas das marcas e do público que quer chamar atenção. Claro que o fato dele ter talento, treinar e dedicar-se todos os dias auxilia na construção dessa imagem. Porém, se as atitudes dentro e fora de quadra não estiverem caminhando da mesma maneira, a probabilidade de ocorrer um deslize é grande. E dependendo do que acontecer, pode gerar uma situação irreversível na carreira do atleta.
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Tudo o que acontece antes dele começar a carreira pode influenciar sua trajetória. Da mesma maneira que o que ocorre durante esse caminho impactará após o sucesso que conquistou. Se a Adriana não tivesse gerido muito bem a sua marca pessoal durante toda a sua jornada enquanto atleta, você acha que ela teria credibilidade após encerrar a carreira?
Se sua marca tivesse sido ferida em algum momento de forma irreversível, talvez hoje ela não pudesse aliar seu nome ao esporte para transformar a vida dos jovens atletas do projeto, concorda?
A construção da marca pessoal é uma soma de fatores e valores de cada atleta e/ou profissional e que deve ser feita de forma a permanecer sempre em alta, não apenas nos momentos de glória.