

Estava na faculdade quando vi o panfleto pendurado no mural de recados com o seguinte título “Ganhe dinheiro trabalhando nos Estados Unidos”. Eu precisava de dinheiro para pagar meu curso. Aquele panfleto era a minha oportunidade de, talvez, conseguir o emprego.
Liguei para o número e me inscrevi no programa. Eu não sabia se seria o escolhido e a agência também não me deu uma estimativa se e quando teria essa informação. Certo dia recebi uma ligação. Eu havia conseguido. Em 15 dias estaria embarcando para trabalhar no McDonald’s da cidade de Montana, nos Estados Unidos.
Mas tinha um problema: meu conhecimento em inglês era zero. Não falava e muito menos entendia uma palavra do idioma. Isso me impediu? Não. Entrei no avião rumo ao país do tio Sam sem pensar nos obstáculos que enfrentaria por lá.
A realidade é dura: salário baixo e sem gorjetas
O que eu ganhava trabalhando de segunda a sexta, das 4h às 13h, no McDonald’s era pouco. Apesar do povo norte-americano ter o costume de dar gorjetas, isso não acontecia ali. O baixo custo do lanche e a rapidez tornavam o McDonald’s acessível às pessoas com menores condições financeiras. Se a tradição da gorjeta fosse aplicada, os restaurantes fast foods não seriam mais tão atrativos.
Tinha que arranjar um jeito de conseguir uma renda extra. Sabe aquelas cenas de filme americano nas quais o personagem principal começa a circular com caneta vermelha as vagas de emprego que lhe interessam no jornal da cidade? Era isso que eu fazia. Me sentia em um próprio filme de hollywood. A diferença é que eu não estava atuando.
Nessa minha procura, fui chamado para uma entrevista de emprego. A oportunidade era para trabalhar em um mercadinho, o salário era bom e o horário de trabalho encaixaria no meu dia. Na hora e dia combinado, fui ao local com meu amigo Guilherme. Ele tinha um pouco de conhecimento do inglês, ao contrário de mim, e me ajudou a falar com o dono do mercado. Eu consegui a vaga de emprego, mesmo sendo um analfabeto no país.
Todo dia teria que sair do McDonald’s e pegar o rumo em direção ao meu mais novo emprego. Eu não podia gastar com o transporte público para ir de um trabalho a outro. Tinha que me locomover, mas não podia gastar mais um centavo. O que eu iria fazer?
Estava passando por uma loja de bairro e vi na vitrine uma bicicleta rosa por dois dólares. Não pensei duas vezes em comprá-la. Ela foi minha companheira até o último dia que estive em território norte-americano. Sem ela, não talvez não tivesse conseguido chegar tão rápido nos meus empregos.
Dois empregos ainda não eram o suficiente
Não. O que eu ganhava ainda era pouco para me sustentar. Me alimentava mal e não consegui juntar dinheiro para pagar o curso.
Os meus finais de semana eram livres. Não trabalhava nem no McDonald’s e nem no mercado. Resolvi então construir uma nova oportunidade para ganhar dinheiro. Peguei uma bicicleta cor de rosa, que na época comprei por $ 2, e andei todo sábado e domingo batendo de porta em porta para oferecer meu serviço de limpeza.
Agora tinha três empregos. Mesmo economizando com transporte, eu ainda precisava reduzir os custos. Foi então que passei a sobreviver apenas de milkshake.
Por trabalhar no McDonald’s, eu tinha direito a uma refeição diária, mesmo nos dias que não trabalhava. Podia escolher entre um milkshake e um hambúrguer. Por ter mais calorias, sempre escolhia o primeiro. Sabia que por mais que não fosse nutritivo, me manteria em pé por longas horas.
E eu precisava de energia, pois a essa altura, já estava iniciando meu quarto emprego. Eu havia aceito a oferta feita pelo meu chefe do mercado em substituir o funcionário que lavava o açougue após às 22h.
Foi andando com a minha bicicleta rosa de dois dólares e tomando milkshake uma vez por dia que consegui manter quatro empregos durante seis meses, sem faltar um dia sequer. Eu voltava para casa apenas depois da meia noite e meia. Dormia às 2h e acordava às 4h para ir para o McDonald’s novamente.
O que as pessoas me perguntam?
Hoje quando eu conto essa experiência para as pessoas, elas normalmente me perguntam:
“Mas como você conseguiu passar seis meses dormindo apenas duas horas e tomando milkshake uma vez por dia? O corpo não aguenta.”
Realmente, o corpo humano não aguenta isso por muito tempo. Tinha dias que eu só queria me jogar no chão e dormir eternamente. Mas a minha força de vontade em conseguir juntar o dinheiro que eu precisava era maior.
Eu sinto as consequências físicas daquela época até hoje. Mas elas são pequenas comparadas a minha satisfação de ter conquistado o meu próprio dinheiro. Consegui pagar minha faculdade e a minha tão sonhada viagem ao Havaí. Aprendi que quando nós realmente queremos algo, é preciso batalhar mesmo cansados e com obstáculos pelo caminho.
Sempre que aparece uma pedra no caminho na minha vida de empreendedor, lembro da época dos milkshakes e da bicicleta rosa de dois dólares.
Revivo aqueles momentos em minha memória, levanto a cabeça e reafirmo que tudo é possível quando temos foco e vontade de realizar algo.
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Compartilhe esse artigo com seus amigos que também estão com muitos obstáculos no caminho. Espero que ele sirva de inspiração para que eles sigam em frente e encontre oportunidades melhores.