

Você tem ideia de como a cor do ano pode fortalecer uma marca? Uma boa escolha tende a ser um tiro certeiro, pois o uso correto de cores transmite muito sobre a essência do indivíduo, do momento vivido e influência nas impressões que os outros têm sobre as marcas, sejam elas pessoais ou empresariais. E quando falo de marcas, não me refiro apenas às que são conectadas à moda. Vai muito além disso, as cores 2021 da Pantone beneficiam muito mais setores e profissionais do que imagina.
Porém, o que percebo é que muitas pessoas acabam adaptando suas marcas pessoais anualmente com a cor lançada pela Pantone sem saber o que ela realmente representa. Simplesmente por seguir uma tendência ou porque está na moda. Pensando nessa situação e em como uma mudança feita de forma não estratégica e alinhada aos objetivos da sua marca pessoal, a Bárbara Jung, minha amiga de infância, excelente profissional formada em design de moda e que hoje é a responsável pelo setor de Compras Sul da Zara Man na Espanha, e eu escrevemos este artigo para explicar o porquê a Pantone escolheu duas cores 2021 e como elas podem impactar no seu futuro.
Visita que fiz a Bárbara na viagem que fiz a trabalho para a Espanha em 2019 – Fonte: Acervo Pessoal Dalbosco
O que é a Pantone afinal?
Para quem não sabe, a Pantone é uma empresa americana que foi criada em 1962 para fabricar cartões coloridos para empresas de cosméticos. Aos poucos, ela foi crescendo e acabou desenvolvendo a primeira cartela de cores, que usamos até hoje, utilizada para escolher a tinta da parede ou o pigmento para tingir uma roupa. Muitos anos antes da primeira cartela ser criada, um artista holandês, conhecido como “A. Boogert”, criou, em 1692, um guia para uso das cores que tinha cerca de 800 páginas manuscritas e pintadas com as tonalidades.
Na época, provavelmente este foi o guia mais completo que existiu – Fonte: Influence PRINT NYC
O sistema de cores PANTONE MATCHING SYSTEM ® é uma ferramenta toda codificada que permite a seleção e reprodução precisas de cada tom em qualquer lugar do mundo. São mais de 10.000 padrões de coloração em vários materiais.
A padronização das cores é feita para que elas possam ser combinadas sem terem contato direto – Fonte: Wikipedia
É hoje a marca que mais influencia as tendências de cores na moda, cultura e design. Para você ter uma ideia, desde 1999, quando a marca divulgou pela primeira vez a “cor do ano”, os profissionais de segmentos que são diretamente impactados por ela esperam pelo mês de dezembro, período em que é lançado o “Pantone do ano”, sempre com expectativa.
Como é escolhida a cor do ano pela Pantone?
Todo ano, cerca de 40 especialistas do Pantone Color Institute, unidade criada pela empresa para ajudar designers e marcas em todo o mundo, observam e pesquisam o comportamento social, as artes, passando pela política e pela Moda, para escolher aquela que será a cor do ano seguinte.
O processo, por mais que conte com o auxílio de diversos profissionais, não é tão simples assim. A Pantone considera diversos pontos e analisa aspectos como:
- Previsões de tendências sazonais;
- Psicologia;
- Estudo do mercado em busca de novas influências de cores;
- Análise de entretenimento e filmes em produção;
- Coleções de arte itinerantes e novos artistas; Moda;
- Todas as áreas de design;
- Destinos populares de viagem;
- Novos estilos de vida;
- Estilos de jogo;
- Condições socioeconômicas;
- Novas tecnologias;
- Materiais e texturas;
- Plataformas relevantes de mídia social; e
- Eventos esportivos futuros que captarão a atenção mundial.
Por que a Pantone lançou duas cores 2021?
Apesar da tradição da escolha de uma cor por ano, a Pantone fugiu à regra pela segunda vez ao escolher duas e não apenas uma cor. A primeira foi em 2016, quando foram escolhidos o Rose Quartzo e a Serenity.
As cores 2016 foram escolhidas para serem mais suaves que a cor de 2015, o Marsala, cor forte (um tom terroso). Fonte: Nerd Pride
Naquele ano, as duas tonalidades deveriam se misturar, refletindo o reconhecimento da fluidez de gênero e do progresso social. Mas, ao contrário das cores de 2016, as cores 2021 foram escolhidas para terem destaque sozinhas mas complementando uma a outra. E isso tem uma justificativa baseada em um fato que a Bárbara, eu, você e todas as pessoas do mundo sabem e viveram em 2020.
Do Azul para o Cinza e Amarelo: o porquê da mudança?
Em 2019, a escolha do Classic Blue como cor do ano 2020 tinha um significado: o desejo de consolidar uma base fiável e estável na qual pudéssemos construir caminhos a uma nova era. Porém, como todos nós sabemos, não foi bem isso que aconteceu em 2020. Um vírus desconhecido surgiu, matou e ainda tem matado milhares de pessoas, destruiu economias e impactou diversas famílias e setores. O setor da Moda, o qual a Bárbara está diretamente conectada, teve muitas perdas. Comércio fechado, empresas quebraram, demissões foram feitas em massa, houve falta de mão-de-obra e aumento nos valores das importações.
Equipe Brasil Zara: Norte/Nordeste – Fonte: Acervo Pessoal Bárbara Jung
Nota-se que nem de longe houve espaço para o Classic Blue no setor. Se nem na moda ele teve vez, imagine nas outras áreas que também passaram pelas mesmas situações? A população do mundo inteiro estava preocupada em comprar papel higiênico, álcool gel, em como fazer as próprias máscaras sem ter que sair de casa, em contar no calendário quando teriam a chance de ver e abraçar seus familiares novamente (e se conseguiriam fazer isso). A Bárbara e eu sentimos isso na pele também. Ficamos um ano sem ver de perto nossos pais e quando tivemos a oportunidade, ainda sim ficamos com medo.
Foi justamente em função desse cenário triste, caótico e totalmente avesso às expectativas que o Pantone Color Institute escolheu não apenas uma cor, mas sim duas para o ano de 2021, o Cinza e o Amarelo.
A dupla traz consigo a frase:
Be prepare for: Ultimate Gray e Illuminating. Ou, em linguagem normal: a luz no fim do túnel.
A justificativa do porquê da escolha das duas cores foi explicada pela vice-presidente do Pantone Color Institute, Laurie Pressman, no NY Times. Segundo ela, nenhuma cor conseguiu entender o significado do momento, então resolveram buscar duas cores independentes que pudessem ser unidas.
“Todos nós percebemos que não podemos fazer isso sozinhos. Todos nós temos uma compreensão mais profunda de como precisamos uns dos outros e de apoio emocional e esperança.” Laurie Pressman – Vice-Presidente Pantone Color Institute
Depois de mais de duas décadas de “cor do ano”, essa foi a primeira vez que a cor cinza foi escolhida e a segunda da cor amarela. A tonalidade do cinza, de acordo com a Pantone, foi escolhida pois transmite confiança e força. Não é nem muito escuro, sóbrio, nem muito claro puxando para o branco. É uma cor firme, forte. A confiança de uma pessoa é a tristeza de outra e, é aí que entra o amarelo Illuminating. Não é o amarelo gema de ovo da Mimosa (cor do ano de 2009) nem um amarelo ácido ou flúor, mas um tom sol, um rosto sorridente (smile): o amarelo.
Como profissional de marca, estou sempre atento às tendências e antes mesmo da Pantone escolher as cores 2021, eu já havia incorporado o amarelo no meu dia a dia.
As cores 2021 podem ser utilizadas de várias maneiras e em diversos setores, como fiz na parede da minha casa – Fonte: Acervo Pessoal Dalbosco
A notícia da vacina contra o coronavírus reforçou a seleção da Pantone para as cores 2021, pois mesmo na mesmice cinzenta de nossos dias atuais, o futuro parece muito mais brilhante. Iluminado!
Como as cores 2021 podem ser conectadas com seus valores e propósito de marca?
Antes de responder a essa pergunta olhe as imagens abaixo e reflita sobre o que as marcas representam e transmitem a você:
Qual a sensação que elas lhe passam? – Fonte: Chief of Design
Se as marcas da primeira imagem fizeram você lembrar de força, autoridade, equilíbrio, personalidade, maturidade e neutralidade, e as da segunda de otimismo, alegria, amizade, iluminação e abundância, saiba que não sentiu isso à toa. Cada cor tem o poder de transmitir uma sensação nas pessoas, por isso, no momento em que você estiver construindo sua marca pessoal, pensar nelas de forma estratégica é importante.
Imagine se você é um ou uma profissional que queira mostrar às pessoas que é autoridade no seu segmento, que tem profissionalismo, que é sofisticado(a) e que quer transmitir confiança a quem lhe segue e/ou compra do seu serviço ou produto. Você vai escolher como cor principal aquela que mais transmite o que quer passar. Ao mesmo tempo que o preto pode passar mau humor ou dureza da pessoa, o branco pode demonstrar neutralidade ou força.
Temos um exemplo claro de Melanie Trump, em dois tons de rosa. Em ambos passa uma imagem de força, mas porque já conhecemos sua personalidade e… seu sobrenome!
A cor precisa estar alinhada ao que quer passar na sua marca pessoal – Fonte: Pinterest
A partir do momento que passa a olhar para si mesmo como uma marca, que depende do seu esforço e vontade para crescer e que para isso você precisa entender quais são os seus valores e o seu propósito, o caminho para tornar-se uma referência no mercado e ter sucesso fica muito mais claro. Não digo que será fácil, mas que você terá uma visão muito mais objetiva do que fazer e não fazer, isso vai. É isso que sempre digo aos meus mentorados e lembro que quando falei para a Andryely Pedroso, a primeira nutricionista Top Voice LinkedIn, começar a compartilhar conteúdo no LinkedIn, ela não acreditou que funcionaria.
E o porquê estou mencionando isso? Porque como mentor, mostro aos meus mentorados o melhor caminho a ser seguido para que eles alcancem seus objetivos e nessa construção de marca pessoal pensamos nas cores que a marca estará associada. Ou você acha que as cores dos jalecos da Andryely foram escolhidas aleatoriamente? Sabendo do significado que as cores podem transmitir e o impacto que elas podem causar na marca, não indicaria a ela para associar sua marca a cor Pantone 448C, por exemplo, que é um marrom escuro monótono, conhecida como a “cor mais feia do mundo”.
Fonte: Pantone
A cor é considerada por pesquisadores como uma cor menos atraente e utilizada em embalagens por indústrias como a de tabaco e cigarro, ou seja, totalmente contra a saúde e o oposto ao que a Andryely transmite em sua marca.
Será que venderá mais se lançar coleção com as cores 2021?
Por mais que a Pantone divulgue as cores do ano e elas sejam um norte para muitas empresas, não podemos ficar refém delas. Na Moda, a Bárbara e outros profissionais trabalham com paletas, nuances e uma vasta cartela de cores, ou seja, não podem ser fiéis apenas à Pantone e sim, a venda e a comercialidade dos produtos, juntamente com o DNA e a fidelidade aos clientes. E nessa lógica, muitas vezes o cliente final está mais preocupado com o design do produto do que realmente ter uma roupa no armário contendo as cores do ano.
Os tons de cinza e as nuances mais “pálidas” já apareceram em muitas passarelas e coleções internacionais no Inverno/2020, muito por conta do home office que vivemos esse ano. Cores neutras, sóbrias, que lembram o homewear, ou seja, o conceito de “ficar em casa”. Coincidência ou não, a cor acabou ganhando protagonismo e a paleta do cinza entrou para a cor do ano. Aquelas marcas que já investiram, é seguir o ritmo, e quem ainda não definiu a cartela, é hora de incluir. O cinza é uma cor que veio para ficar.
Não podemos afirmar que ao incluir as cores do ano da Pantone sua marca venderá mais ou não, afinal o resultado positivo depende do conjunto de estratégias que você vai traçar, seja para um desenvolvimento de coleção, incluindo os fatores que comentamos acima como entender o próprio DNA ou ainda de sua marca pessoal.
Para quem quiser entender um pouco mais sobre essa relação entre as cores e como elas influenciam o ser humano, recomendo o livro “Psicodinâmica das cores em comunicação” escrito por Modesto Farina, Clotilde Perez e Dorinho Bastos.
O livro você consegue encontrar no site da Amazon por R$66,50 – Fonte: Amazon
Como a Pantone ganha dinheiro
Essa é uma pergunta que muitos se fazem. Se a Pantone faz um estudo durante o ano para escolher a cor do ano seguinte e lança isso ao mundo sem cobrar nada, como ela ganha dinheiro?
A pantone ganha dinheiro vendendo a cartela de cores deles: o PANTONE. A marca é uma sumidade no assunto e ninguém, hoje, trará cor se não for explicando o número do Pantone que quer. Na Moda, na arquitetura, no design, na decoração, a nomenclatura é apenas uma: Pantone.
Existem diversas variações das cartelas, ou guides, como a têxtil, para moda/decoração, ou a gráfica, para designers. Podem ser vendidos em papel ou em tecido, depende do uso que a empresa necessita. É dessa forma que você vai conversar dentro desse meio, dificilmente você fala a terminologia COR, se não: PANTONE.
A Bárbara e eu fizemos uma brincadeira e escolhemos nossas Cores Pantone para 2021:
Cor da Bárbara – Fonte: Pantone
Cor Dalbosco – Fonte: Pantone
Tudo é uma questão de estado de espírito!
E você, qual o impacto que as cores 2021 da Pantone impactarão sua marca pessoal?