

O mundo está em busca de grandes talentos. A tendência de mercado requer pessoas prontas para os novos desafios. O tamanho ou segmento da empresa não importa, o que vale é que o profissional gere bons resultados, tenha capacidade de adaptabilidade frente a diferentes cenários e que tenha uma marca pessoal forte no mercado. Para se destacar na carreira e alcançar os itens acima, é necessário identificar e desenvolver o equilíbrio entre hard e soft skills. A primeira refere-se às habilidades técnicas e a segunda, às comportamentais.
Em função dessa importância, conversei com o meu mentorado e especialista em soluções empresariais, Jorge Felisberto, sócio de diversas empresas como Northstone, TAX Group, Firenze Securitizadora e Jota Finance, para falar sobre como essas habilidades influenciam no desenvolvimento e sucesso do profissional no mercado, principalmente o empresarial.
Em 2019, a taxa de crescimento da indústria de consultoria de empresas foi de 4,1%, segundo Portal Administradores. Contudo, a pandemia em 2020 fez com que esse segmento estabilizasse, fazendo com que aqueles profissionais mais bem preparados permanecessem em alta. Assim como o mercado de mentoria, o de consultoria empresarial não é para aventureiros, é preciso ter uma capacitação forte, assim como capacidade analítica e postura ética para construir, vender e perpetuar uma marca pessoal forte e sustentável.
Neste artigo você irá descobrir como iniciar uma carreira no mercado financeiro, pontos importantes a serem avaliados na jornada de um conselheiro e como lidar com as hard e soft skills para ter destaque e uma marca pessoal fortalecida no mercado.
Esta conversa foi realizada antes da pandemia e está disponível na íntegra, assim como outros episódios sobre marca pessoal, no meu podcast no Spotify
Dalbosco: Qual é o grande erro que você vê hoje na formação de Conselhos de empresas, onde há uma certa “gourmetização”, que vejo nos últimos cinco anos. Muitas pessoas, às vezes, dizem que querem ser um conselheiro, mas não estão atentas aos riscos.
Jorge: Gostei da expressão “goumertização”. Temos sim uma grande onda de executivos olhando para carreira de conselheiro, como sendo uma segunda etapa da carreira. Alguns com dom, alguns com propósito, muitos por oportunismo. E a grande maioria sem saber de fato como é a vida de um conselheiro. Existe a ilusão de que você vai continuar mantendo um padrão de renda razoável, com um mínimo de responsabilidade.
Na verdade, é o inverso! Para você atuar de fato como um bom conselheiro, existe uma necessidade de dedicação de muitas horas além das horas das assembleias e reuniões, propriamente ditas, de Conselho. E o nível de responsabilidade que você tem nesta função, não raro, vai muito além da responsabilidade que você tinha quando era executivo. Muitas vezes, no Brasil, tem a figura do executivo C-level, mas ainda como CLT, ainda não é estatutário. Ele tem um nível de responsabilidade limitada pelo regime de contratação dele. E mesmo o executivo estatutário de empresas de capital aberto, tem um nível de responsabilidade limitada também porque muitas das decisões acabam sendo tomadas pelos conselheiros e ele, simplesmente, executa.
Óbvio que na execução de uma estratégia mal feita, ele vai ter um nível de responsabilização, vai. Mas o conselheiro que o deliberou também. Então, o grande equívoco que existe, hoje, em torno deste tema é: “Poxa, vou conseguir ter uma agenda tranquila, ganhar meu dinheiro e com baixo nível de responsabilidade”.
Dalbosco: Ali pelos anos de 2015/2016, durante a Operação Lava Jato, muitas pessoas levaram um susto porque não tinham noção do total risco que se tem quando você é conselheiro de administração.
Jorge: Exato. A Operação Lava Jato foi um caso emblemático no Brasil. Mas tiveram casos antes e depois. Algum tempo depois da Lava Jato, foi o problema da Vale do Rio Doce, com impacto ambiental tremendo e com comprometimento de conselheiros que até hoje estão respondendo com bloqueio de bens. É uma confusão enorme.
O que eu costumo dizer para amigos que me consultam, às vezes, e sabem que eu tenho este plano de carreira. Tenho esta missão e também tenho buscado ouvir profissionais que desempenham este papel há muito tempo para ver se realmente faz sentido para mim. Tenho experimentado alguma coisa, como você já mencionou no início da sua fala, como conselheiro consultivo de uma assessoria de fusão e aquisições, justamente como um test drive, além da formação acadêmica. Quando alguns amigos me consultam sobre isso e eu percebo que a expectativa deles é ter uma agenda tranquila, ter um nível de responsabilidade mais baixo, costumo dizer: “Não é essa praia que você quer então, vai ser consultor ou então vai pescar! Pendura a chuteira ou trabalha como consultor”. Ainda sim tem um nível de responsabilidade. Também tem uma ilusão de que o consultor não tem responsabilidade, mas você tem. Responsabilidade fiduciária é infinitamente menor que uma responsabilidade de um conselheiro. Este é o ponto.
Então, a Lava Jato trouxe isso à tona. Problemas da Vale do Rio Doce e tantos outros Brasil afora, estão começando a trazer à tona essa realidade da profissão, porque é uma profissão, não é uma atividade para as horas vagas. “Eu não vou ficar em casa enchendo o saco da minha mulher. Então, vou ser conselheiro!”. Não, não é isso, demanda tempo. Outra ilusão que muita gente tem é de que vou pendurar a chuteira de executivo, vou atuar em cinco ou seis Conselhos ao mesmo tempo, e vou trabalhar uma vez por mês, só de segunda à quarta.
Para você desempenhar o papel de conselheiro, atento a todos os aspectos de governança, com três Conselhos, vai ocupar 100% da sua agenda. Uma outra ilusão é que eu vou pegar cinco ou seis posições de conselheiros aqui, sendo R$ 10 mil em cada um, vou ganhar bem para caramba…
Dalbosco: Jorge, você passou por grandes corporações no Brasil como C-level, relacionado às áreas financeiras, que são mega corporações. A gente curte amigos em comum e qualquer um deles fala: o Jorge por onde ele passava impactava positivamente os setores, os negócios.
Pensando na sua carreira, como gestor financeiro, um case de sucesso, qual o grande conselho que você dá para as pessoas mais jovens que, hoje em dia, estão começando a entrar na carreira financeira para não cometer alguns erros típicos que você vê hoje no mercado sendo cometidos?
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Jorge: Meu conselho é: “Tire a bunda da cadeira!”.
Aquela época em que o papel do executivo financeiro, seja ele de nível júnior ou sênior, estava limitada a cumprir com sua rotina no seu escritório. Cuidar daquela meia dúzia de KPIs (traduzindo para o português: Indicador-chave de Performance) que estão sob responsabilidade do setor financeiro, isso ficou para trás. É coisa do passado.
Eu costumo dizer que uma área de finanças, na qual sou formado, em Contábeis, não tem mais espaço para aquele contador “guarda livros”. Não tem mais. Eu diria que também não tem espaço para aquele financeiro que é tesoureiro. O papel do executivo financeiro júnior ou sênior é conhecer muito bem a dinâmica da empresa de todas as áreas, da produção passando pelo marketing, jurídico, tecnologia da informação, conhecer muito bem. Porque, hoje em dia, se eu pudesse resumir em uma única palavra, eu diria que o principal papel a performar na área financeira é de agente catalisador.
Dalbosco: Um dos seus pontos fortes, observando a sua carreira, sempre foi o poder de comunicação dentro da empresa, com uma habilidade nata, e gestão de pessoas. Muitas vezes, a gente “pena” para encontrar isso em um gestor financeiro. Pelo menos esta é minha percepção. Agora, você também tem esta percepção?
Jorge: Tenho sim. Mas em defesa deles, eu vou dizer que tem a mesma coisa nas áreas que são mais de “people skill”, como a área comercial. O que eu quero dizer com isso? Assim como, de fato, os financeiros ainda estão muito focados nos aspectos cartesianos apenas. Então, a pessoa é muito boa em ciências exatas, a pessoa é muito boa em matemática, em conversar com os instrumentos financeiros, com balanço e com demonstrativos de resultados, com os KPIs, mas é ruim com gente. Tem isso.
De fato, é uma competência que talvez agora a minha geração tenha começado a desenvolver e eu esteja no primeiro quartil desta geração que deu um pouco mais de atenção para o desenvolvimento destas competências de comunicação. Mas também nas outras áreas também têm pessoas que têm muito este skill e não conversam com números. Não sabem fazer um diagnóstico financeiro.
Bastidores do Dalbosco Cast em Curitiba (PR) – Fonte: Acervo pessoal Ricardo Dalbosco
Dalbosco: Buscar este equilíbrio analítico…hard skills, soft skills… palavras que estão na moda…
Jorge: O que eu quero dizer para você é o seguinte: todas as áreas da empresa, todos os níveis da empresa. Aquela ideia de que você vai conseguir performar um bom papel sendo especialista na sua área e fechando totalmente os olhos para as outras competências, desculpe, não vai lhe levar onde você quer chegar. Óbvio que você sempre vai ter como destaque aquela competência que lhe é nata. Se você é um cara de exatas, é aí que você vai fazer seu gol.
Dalbosco: Contratou pela tecnicidade, foi demitido pela falta de atitude…
Jorge: Exatamente. Você tem que buscar as outras competências. A comunicação é uma delas. As soft skills, como você comentou, o relacionamento interpessoal e a comunicação não agressiva. A maioria dos executivos financeiros, mais sênior, ainda peca pela comunicação agressiva. Pecam muito e isso já começa agora a sair dos bastidores e gerar processos.
Dalbosco: Está cada vez mais público, não é? Impactar a imagem da empresa, impactar a imagem do profissional.
Jorge: Isso mesmo. Tem casos, que se você procurar na Literatura, de empresas que tiveram que assumir processos gigantescos porque algum C-level, por uma inabilidade de comunicar em alguma situação interna ou externamente, causou.
Respondendo de forma objetiva a sua pergunta inicial… Sim, ainda é uma competência pouco desenvolvida em executivos de finanças esta parte da comunicação, esta parte do “people skill”, mas eu tenho percebido mudanças. Eu não sou o único. Tenho percebido melhorias neste meio, felizmente.
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Dalbosco: Jorge, por vezes como colaborador, por vezes como diretor, por vezes como consultor e por vezes como empresário. Qual é o erro mais comum que você vê, independente se uma pequena, média ou grande empresa, em termos de saúde financeira que você tem acompanhado nas últimas duas décadas?
Jorge: Aí é bater em uma coisa que você comentou, que está no Google: Planejamento!
Dalbosco: Eu sempre digo que quem planeja errado, erra feio no operacional.
Jorge: Uma ilusão que se tem também acerca do planejamento é que ele lhe engessa. Principalmente nos tempos atuais, eu ouço muita gente dizendo: “As coisas mudam com tanta velocidade e planejamento não serve para nada”. Então, você não sabe o que é planejamento! Porque o bom planejamento sempre deixa aberta a prerrogativa do Plano B. Um bom planejamento, ele mira lá na frente, mas ele constrói cenários alternativos.
Óbvio que eu não estou falando daquele planejamento da década de 70 ou 80, que é levar meia dúzia de executivos para um spa, durante o final de semana, e decidir os próximos 20 anos da empresa. Porque ninguém consegue enxergar o que vai acontecer daqui a cinco anos. Não estou sugerindo isso.
Volta e meia, eu arrumo confusão com colegas financeiros quando eu falo do planejamento orçamentário. Porque sou um cara que já fui adepto do orçamento base zero e hoje sou adepto do não-orçamento. Porque a maioria dos executivos da minha área acha uma aberração.
Dalbosco: Devem lhe chamar de maluco!
Jorge: Quando eu falo do não-orçamento, estou falando daquele orçamento que engessa e que faz com que a empresa fique burra. É aquele orçamento que engessa e não permite que você aumente uma despesa “x” porque vai exceder aquilo que foi orçado, sendo que esta despesa vai aumentar as vendas orçadas em 10%. Eu vejo muito isso: orçamento funciona, na maioria das vezes, como se fosse o “cabresto” que coloca no cavalo, em que você olha para aquela direção e não consegue enxergar seu entorno.
Óbvio que você tem que ter um plano de venda, de que despesas, que custos, que time, que tecnologia, que estrutura você precisa para performar aquilo.
Dalbosco: Mas há uma flexibilidade em cima disso…
Jorge: Sim. Quando eu sou apedrejado pelos colegas, eu digo: “Então vamos não falar em não-orçamento. Vamos falar de um orçamento que seja ajustável constantemente. Nos Estados Unidos, ou fora, no Brasil, já começa a adotar esta visão também que é o tal do “forecast”, que é um instrumento que permite, para o bem ou para o mal, você ajuste o orçamento na medida que ele vai sendo executado.
Dalbosco: Recentemente, eu falava sobre isso no LinkedIn. Estimule seu ponto fraco para se transformar em um ponto forte. Bem aquela frase de Facebook. Eu não acredito nisso, eu acredito que aquilo pode ser um agente motivador. Mas tentar trazer seus pontos fracos para um nível mediano.
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Jorge: O esporte e a arte são, na minha opinião, uma prova cabal de que o sucesso se obtém desta maneira. O Ayrton Senna jogando futebol estaria provavelmente na série C, com a mesma motivação, energia e disciplina. Óbvio que é o treino que desenvolve esta habilidade, mas para que você tenha o diferencial que realmente vai lhe destacar da multidão, tem um “Quezinho” de nato ali. Se você desenvolve isso com habilidade, com muito sangue, suor e lágrimas. O Einstein já falou que as descobertas dele foram 99% de transpiração e 1% de inspiração.
O treino e a dedicação são fundamentais. Você usou a palavra de que desenvolver as habilidades que não lhe são muito fortes é motivador, um elemento de motivação, acho que sim. E servem principalmente para lhe tirar da zona de conforto também.
Acho que buscar desenvolvê-las ajuda a lhe tirar da zona de conforto, ajuda a fazer você olhar para aquilo sob uma outra ótica. “Comercial não é o meu skill, mas deixa eu desenvolver um pouquinho isso para poder desenvolver empatia para com o executivo da área comercial”. Você entendeu? Aí tem um valor enorme. Lhe tira da zona de conforto e permite que você passe a olhar para aquela área, que não é seu ponto forte, com o olhar de quem tem o ponto forte lá.
Bastidores do episódio do Dalbosco Cast com o Jorge Felisberto – Fonte: Acervo pessoal Ricardo Dalbosco
Dalbosco: Você, hoje como empresário, gostaria de saber quando foi seu ponto de virada na carreira? Foi alguma cena ou história que aconteceu? Vou dar um exemplo: “quando nasceram minhas filhas, quando eu fui demitido, quando não queria mais depender de um CNPJ e, sim, construir minha marca pessoal e depender do meu próprio CPF.”
Jorge: Eu tinha um exemplo dentro de casa, que era meu pai, que mesmo sem formação foi, segundo minha concepção, um empreendedor. Ele distribuía camarão em restaurantes de Laguna (SC), no porto, nas poucas indústrias de camarão na época. Eu já tinha isso e talvez lá no meu subconsciente tinha uma coisa me dizendo: “Olha, você tem a capacidade de fazê-lo.” A trajetória que eu escolhi acabou me trazendo para este caminho, onde eu comecei a me relacionar com empreendedores, onde eu comecei a entender que não é “such a big deal”. A entender de que como executivo às vezes eu corro tantos riscos quanto quem empreende, então, por que não?
Dalbosco: Que ano foi isso, Jorge?
Jorge: De 2010 para cá, eu comecei a ter um pouquinho desse olhar e as conversas começam e as coisas vão caminhando. E aí um amigo seu que também tem este desejo e sabe que você também tem, lança uma ideia da qual você gosta e aí vocês se associam e criam.
Dalbosco: Um entra com a terra, outro com a semente e outro com a água.
Jorge: Um com a vontade e outros com mais vontade ainda. No meu caso as coisas aconteceram dessa forma. Talvez o exemplo do meu pai que sempre foi empreendedor, apesar de ter morrido jovem, tenha sido mais um fator que me fez aceitar a ideia com mais facilidade. Dizer que eu sempre pensei nisso, não. Um grande insight, não. A vida foi percorrendo um caminho que me trouxe até o momento em que esta decisão era possível e eu decidi arriscar. Longe de ser bem sucedido nesta área, a gente (eu e meu sócio) está começando nesta área há pouco tempo. Estamos tentando levar todo o aprendizado que ambos tiveram na vida de executivo. Então, um bom planejamento, não correr riscos demais.
Quando falo em não correr riscos demais, está aí um recado para quem pretende empreender: você pensa que empreender é não correr riscos, vai para outra “praia”. Porque empreender é justamente saber correr os riscos da forma correta.
Dalbosco: Acha que vai empreender e ser dono do próprio negócio…
Jorge: Uma coisa que é batida, mas ainda hoje você encontra gente dizendo: “Não aguento mais trabalhar 10 horas lá na minha empresa para outra pessoa. Eu vou empreender porque aí eu vou mandar na minha agenda ou vou trabalhar menos. Doce ilusão. Então é um pouco disso. Não foi nada que me levou. Não foi nenhum despertar que tive a partir de um evento “x”, “y”, “z”. As coisas foram acontecendo.
Dalbosco: Eu costumo citar e você fala um pouco sobre o que é o sucesso. Cito que sucesso é, na minha concepção, quando você se preenche, fica repleto, farto no sentido de que “estou satisfeito”. Você preencheu os seus valores e o seu propósito de vida. O que faço hoje vem em sintonia aos meus valores e preenche meu propósito de impacto. Então, vejo muito nessa pegada.
Jorge: É uma bela definição!
Dalbosco: As pessoas às vezes ficam atrás daquele pote de ouro, esperando quando o arco-íris para eu atravessar e encontrar o pote de ouro do outro lado e nunca encontram.
Muitas vezes, me perguntam em palestras ou em cursos: Dalbosco, uma pessoa de sucesso ou uma pessoa de alto rendimento, qual é a diferença de outra que fica tentando?
Eu falo: Aquela que realmente consegue, é aquela que a única coisa que salva ela e que muitas vezes diferencia ela daquela outra pessoa que começa e para, começa e para, é a disciplina.
Você acha que uma pessoa de alto rendimento, alta produtividade, ela está empolgada todo dia, ela está feliz todo dia? Não! Não, não é um robô! Não tem como. Não é aquela maquininha que está com aquele processo simplesmente todo dia. Mas o que a mantém. Vim aqui hoje, você estava cansado, você acordou cedo provavelmente, dormi 4 horas e o que fez a gente estar aqui hoje? Porque a gente tinha um compromisso. A gente simplesmente tem disciplina e eu vou lá cumprir isso e vai sair hoje. Independente de que quem está aqui vendo na câmera aberta, tá vendo o Toro aqui. Independente se hoje está “Bull” ou “Bear”. A gente se comprometeu e a gente firmou um compromisso de estar aqui. Isso define muitas vezes pessoas de alto rendimento ou não.
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Jorge: Tem uma frase popular que acho que se aplica a tudo que você falou “A turma vê a pinga que a gente bebe, mas não vê os tombos que a gente leva!”. Então, é mais ou menos por aí.
Uma outra coisa que eu diria para você de fato buscar o sucesso como meta. Sucesso pode ser formar o seu filho. Sucesso pode ser ter uma vida em harmonia com a família. Sucesso não é necessariamente estar no horário nobre da televisão, não é ter muito dinheiro. Sucesso pode ter várias facetas. Independente de qual seja a faceta do sucesso que você percorre, você tem que ser tolerante a erros. E aí, eu destaco a qualidade que os anglosaxões têm e que o latino, principalmente o latino americano não tem.
Dalbosco: Qual é, Jorge?
Jorge: É a resiliência. É a capacidade de errar, levantar e fazer de novo. No Brasil, quando o empresário quebra, o executivo perde o emprego, a maioria entra em depressão. A maioria não sabe o que fazer.
Dalbosco: Como se vive isso na área financeira…
Jorge: Muito, muito! Bull e Bear Market e é isso mesmo: altos e baixos, ganhos e perdas.
Dalbosco: A gente conversava antes sobre MVP, como falta esta percepção para muitos gestores da old school ainda. É aquela reação rápida de inovar perante este novo cenário, mas deixar de certa forma livre para que determinados setores da empresa, as pessoas possam agir em virtude, é isso.
Às vezes, as pessoas querem pregar uma cultura organizacional completamente antiquada pelos tempos atuais e dizer que a moda é ter um setor de inovação e tecnologia e quer complementar aqui dentro da empresa e restringe aquelas pessoas aos meus patamares do que ela foi formada e que ela cultiva na empresa há mais de 30 anos.
Jorge: Sim! Olha que interessante nesta mesma linha que você está falando, que tem o mindset antigo com a palavra da moda e a coisa não dá certo obviamente: É o empresário que prega e quer uma equipe inovadora e criativa, que quer que a equipe pense como o dono, mas tem um cartão ponto. Isso é um contrassenso e tem muita gente com este tipo de discurso.
Eles falam “Eu quero aqui pessoas com empreendedorismo, criativas, inovadoras e aí você vai no escritório dele e tem cartão ponto lá dentro”. E você vai na empresa e está todo mundo de terno e gravata. Você chega lá a pessoa não pode ter tatuagem ou cabelo grande e não pode usar barba.
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Dalbosco: O famoso crachá ainda porque o empresário ainda não implementou a biometria facial. Falando neste processo que algumas empresas impõem. Eu cheguei a trabalhar em três McDonald’s nos Estados Unidos, na época, todo o regulamento e tinha várias limitações em termos visuais: o que podia e o que não podia. Você tem uma história de impedirem de ter barba! Pode contar esta história?
Jorge: Eu não posso citar nomes, obviamente, mas sem fazer juízo de valor aqui da situação, até porque cada um tem o seu modelo mental, sua forma de encarar o mundo. Acho que lidar com o contraditório é competência que todos nós precisamos desenvolver. Na ocasião, era uma posição importante, uma posição sênior, de uma empresa na qual eu estava negociando a minha ida para esta posição. Depois de meses de negociação, pacote, autonomia, bônus, não-bônus, plano de carreira…tudo negociado…
Seis meses, durante este processo de negociação, com várias entrevistas em todos os níveis da organização, inclusive com os próprios sócios, o meu superior hierárquico naquela ocasião, de fato me contratando, telefona para mim no dia seguinte e diz: “Jorge, você foi candidato selecionado aqui. As questões do pacote que você colocou na mesa foram aceitas, tudo certo, sem problema nenhum. Daqui a 60 dias, se depender da gente, você estará aqui comigo. Só tem uma questão que eu não sei como abordo contigo. Não sei como lhe falar, me entenda, eu sou mensageiro apenas aqui”. Eu falei que estava tranquilo. “Sabe o que é: os sócios daqui são um pouco mais conservadores e em uma área financeira acho que não seja apropriado um executivo que use barba nesta posição”.
Eu recebi aquilo com uma certa surpresa porque eu trabalhava na área financeira de uma grande corporação com barba. Isso nunca foi problema.
Dalbosco: Qual foi o aprendizado disso tudo?
Jorge: Nestas horas, não tem nem certo nem errado de como você enxerga o mundo. Quando fiz o exercício de me colocar no lugar daquela pessoa que fez este pedido, tentei imaginar como teria sido a experiência de vida dela até aquele momento. Eu pensei: talvez eu próprio tivesse essa impressão. Ainda hoje tem banqueiro que acha que roupa de executivo de banco é azul marinho ou cinza. E até pouco tempo atrás, e a gente pode falar, porque era público notório no Bradesco, não poderia se trabalhar de barba, seja qual fosse a função, então eu falei assim “É uma forma de encarar o mundo. A barba não traz credibilidade na área financeira, ok, e segue a vida!”. Foi esta a lição que eu tirei deste episódio aqui.
Dalbosco: Você passou as duas últimas décadas praticamente em muitas outras experiências. Isso é super positivo porque você tem um grande dom da comunicação e compartilhar suas experiências de uma maneira é muito fácil das pessoas gerirem isso.
Este novo posicionamento na construção de marca pessoal, sua estratégia de compartilhar suas vivências e seus conteúdos cada vez mais fortes, por meio do LinkedIn e do Instagram. Me conta um pouco quando veio esta decisão de que você se viu: “Opa, eu posso ser realmente um facilitador deste tipo de comunicação porque são poucos ainda no seu mercado”.
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Jorge: Este desejo eu sempre tive. Assim que surgiu a ferramenta Blog, eu corri para montar um. Naquela época, queria compartilhar a minha paixão pelo automobilismo e então criei um Blog para falar das minhas corridas de kart. Eu já tive meus dias de glória e, hoje, me divirto. Eu queria relatar de onde vinha a inspiração e aí contei lá no blog que a minha lembrança do meu pai era de estar ao lado dele assistindo corridas do Emerson Fittipaldi e não jogo de futebol, que era algo fora do comum na época. Até hoje, não é uma coisa comum.
Ali eu tive a paixão, os desenhos do Speed Racer, nos sábados e domingos, que me causavam paixão. Tenho souvenirs do Speed Racer, coisa de criança. Tem capacete, miniaturas e uma série de coisas. Eu queria contar sobre aquilo e aí comecei a explorar. Abandonei, mas está ativo lá. Se pesquisar, está lá ainda. Parei de contar as histórias e um tempo depois eu falei que queria passar um pouquinho da minha vivência, da minha experiência e principalmente fazer provocação. Fiz umas postagens para provocar mesmo, tipo sem um ritual ou compromisso de estar postando toda semana, todo mês. Na hora em que vier um insight, eu vou postar.
Quando vislumbrar alguma situação sobre a qual quero falar, eu vou postar lá. Sempre tive essa vontade. Hoje é uma coisa muito batida e muito comum, pode parecer que estou aqui só falando da boca pra fora, o papel do líder, seja ele no campo político, empresarial, como executivo ou como conselheiro, é transmitir seu olhar sobre o mundo, a sua experiência.
Sessão de Fotos do Jorge Felisberto para fortalecimento de marca pessoal – Fonte: Acervo pessoal Ricardo Dalbosco
Dalbosco: Começar a deixar o seu legado…
Jorge: A gente não leva nada, Ricardo. Seja você religioso ou não, uma verdade inexorável é que de material a gente não leva nada. Talvez em um mundo espiritual, se é que existe, você leve conhecimento, mas ainda sim, não custa compartilhar. Eu sempre defendi isso: transmitir conhecimento é a melhor forma de você, de fato, impactar na vida das pessoas e deixar um legado.
As coisas que eu fiz no kart e as coisas que fiz durante a minha carreira executiva, os erros e acertos, isso vai permanecer na memória de poucos, por pouco tempo. O conhecimento que eu transferi, que impactou a vida de alguém, isso perpetua. Pode ser de certa forma até um egocentrismo, uma forma de querer se perpetuar. Pode ser, nunca parei para pensar. Se eu vier a fazer análise, talvez descubra que seja isso.
Eu sempre tive isso de que transmitir o seu conhecimento, a sua experiência, lançar na mesa o seu olhar sobre as coisas para que as pessoas debrucem sobre ele e peguem ou não, aproveitem o todo, aproveitem em parte ou utilizem aquilo para contestar ou fortalecer seu próprio ponto de vista. Acho que é fantástico.
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Dalbosco: Quando você fala em egocentrismo, costumo usar a seguinte frase: Seja egocentrismo, seja um trabalho voluntário, seja compartilhar conteúdo, eu sempre digo que isso é uma forma de egoísmo.
As pessoas dizem assim: Como assim egoísmo, Dalbosco?
Porque quando compartilho conhecimento através de uma rede social, por exemplo, eu me sinto bem. Um trabalho voluntário, eu me sinto bem. Então, de certa forma, isso é egoísmo. Ou seja, estou fazendo também para eu me alimentar internamente. Mas que bom que é um egoísmo positivo.
Jorge: Se o egoísmo é um mal necessário, é algo da natureza humana, assim como o estresse, vamos usar da maneira correta. Então, sim. Eu tenho o depoimento de muitas pessoas próximas ou até mesmo pessoas que eu sigo em redes sociais, filantropos muito dedicados que falam exatamente o que você falou: Eu recebo muito mais do que eu dou!
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Dalbosco: Você deve estar percebendo isso nas mentorias. Quando você começa a planejar conteúdos, alterar isso, adequar ou mudar o perfil, assim vai ser minha estratégia, como eu vou construir a minha marca pessoal. Como você recebe mais, aparece…Você está construindo conteúdo para doar, é muito aquilo da reciprocidade, é algo incrível.
Mesmo para quem contraria você! As pessoas têm muito aquilo: eu tenho medo da crítica. Aí parece que a pessoa fica escrevendo e esperando que vão louvar você. Ainda bem que tem quem me contraria, senão eu ia achar que estava maluco.
Jorge: Eu até concedo benefício da dúvida para quem pensa assim porque nós normalmente, e este é o exercício que a gente tem que fazer constantemente, nós, normalmente, somos agressivos na hora de fazer uma crítica. Então, a maioria das pessoas evita o contraditório não pelo conflito de ideias, mas pela agressão que está ali implícita. O debate civilizado de ideias antagônicas ainda é muito pouco exercitado, principalmente pelos latino-americanos, que a gente ainda tem aquele ímpeto, fica roxo, bate na mesa, eleva o tom de voz porque eu estou sendo contrariado.
E isso é um desperdício tremendo porque você acaba não permitindo que a mensagem do outro seja processada pela sua experiência, pelo seu conjunto de informações e dali sai uma coisa diferente, porque não é uma relação de perde-ganha. Às vezes, é. Às vezes, você ganha o debate ou perde o debate. Ambos cresceram. Não raro surge uma terceira ideia, que enriquece a ambos.
Quem está nos acompanhando pode dizer que, aquela vez Jorge, no debate, você deu um puta soco na mesa. Claro, ninguém é um robô. Tenho uma amiga minha, ela sabe quem é, que é psicóloga que usa uma expressão que eu roubei para mim, que é muito bacana e retrata como vejo a nossa espécie, que é a seguinte: “Somos seres emocionais que raciocinam”. Eu concordo absolutamente com ela, por isso que o grande sucesso na comunicação está em saber lidar com suas emoções e com as emoções do outro, com quem você está interagindo. A parte do vocabulário é extremamente importante. Se você não tem um vocabulário rico, se você não tem conteúdo, a coisa se esvazia rapidamente.
Um saudoso ex-chefe meu falava uma coisa assim que, lá nos primórdios do meu início da trajetória profissional, me levaram sempre a buscar o conhecimento, buscar sempre a atualização. A frase dele era a seguinte: “Você pode enganar uma pessoa por muito tempo, alguns por algum tempo e muitos por pouquíssimo tempo.” Se você não tem conteúdo, a casa cai. A construção de conteúdo se dá muitas vezes pelo debate. Essa é minha opinião sobre isso.
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Marca pessoal forte requer responsabilidade e paciência
Amadores não prosperam, não conseguem se destacar por um longo período de tempo em uma empresa ou em um negócio próprio. O trabalho de consultoria não é para amadores. Como o próprio Jorge Felisberto nos apresentou neste bate papo: o nível de responsabilidade vai mundo além da responsabilidade que você tinha quando era executivo.
Vale ressaltar ainda que o empresário deve ter em mente que na consultoria empresarial não consegue fazer “mágica” e modificar a empresa do dia para noite. É preciso paciência e cautela.
Por outro lado, as pessoas têm medo de se expor, de dar suas opiniões em público. A maioria das pessoas evita o contraditório não pelo conflito de ideias, mas pela agressão que está ali implícita.
Isso é algo que trabalho com meus mentorados durante a mentoria de marca pessoal. Para ter uma carreira próspera e com destaque, é preciso buscar se desenvolver, identificar as habilidades e características que são pontos fortes e mostrar isso ao mercado de forma estratégica para virar uma referência.
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